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Estabilidade básica para sustentar a implementação (ou para iniciá-la)

José Roberto Ferro
Estabilidade básica para sustentar a implementação (ou para iniciá-la)

Recentemente, visitei uma planta de uma grande empresa que há anos vem implementando, com sucesso, os princípios lean. Na expansão de seus negócios no país, esta empresa investiu em uma nova planta e resolveu pensá-la lean desde o projeto.

Assim, havia fluxo de material simples e natural na planta, em que as matérias primas chegavam, seguiam um fluxo linear passando pelas várias áreas de transformação até chegarem à expedição. A produção era puxada, com fluxo de informações simples e visual. As células de montagem eram dedicadas a famílias de produtos e abastecidas por supermercados gerenciados visualmente pela própria embalagem, ou utilizando luzes para avisar da necessidade de se recolherem peças. Os processos anteriores, fluxo acima, também estavam dedicados às famílias de produtos e, do mesmo modo, estavam conectados por sistemas puxados simples. A planta tinha um excelente nível de limpeza e organização.

Porém uma olhada mais cuidadosa revelava que as células de montagem não atingiam as metas horárias, embora usassem o conceito de tempo takt. Não havia trabalho padronizado, nem métodos de solução de problemas. As rotas de abastecimento não tinham cadenciamento, gerando inúmeras ineficiências como, por exemplo, a existência de três movimentadores de material quando precisavam de apenas um.

O resultado disso é que a planta era obrigada a trabalhar em três turnos e seis dias por semana para atender a demanda do cliente, que opera em dois turnos e cinco dias por semana. Esta nova planta foi concebida para atender exatamente a demanda do cliente. Portanto, este turno adicional e o dia extra de operação eram a conseqüência exata da falta de estabilidade, pois a planta não conseguia atingir os volumes para os quais foi projetada.

Este é apenas mais um exemplo da falta de estabilidade básica, um dos elementos fundamentais do sistema lean, que freqüentemente é negligenciada.

A estabilidade "implica previsibilidade e consistente disponibilidade dos 4 Ms (Material, Máquina, Método, Mão-de-obra)" (para maiores detalhes, ver artigo, de Art Smalley, em nosso site, "Estabilidade é a base para o sucesso da produção lean"). Para cada um deles, é necessário estabelecer processos robustos para viabilizar a efetiva implementação das outras ferramentas. De forma resumida, significa que os Materiais devem estar disponíveis no momento necessário, na quantidade necessária, no local necessário e na qualidade necessária; as Máquinas precisam estar disponíveis quando forem necessárias, o Método de trabalho precisa ser consistente e uniforme e a Mão-de-obra disponível e treinada adequadamente. Sem esta estabilidade, é difícil manter a padronização necessária para permitir as efetivas melhorias.

Para garantir cada um deles, é necessário um esforço disciplinado de aplicação de diversas ferramentas bastante conhecidas. O dimensionamento adequado dos supermercados e a solidez dos sistemas puxados, juntamente com a robustez dos processos em termos de qualidade, garante o abastecimento de materiais. As instruções de trabalho, junto com os programas de treinamento e a ajuda dos líderes das equipes estabilizam a mão de obra. Os esforços para identificar as reais causas das perdas de produção e a manutenção autônoma e preventiva focam a previsibilidade das máquinas. O trabalho padronizado (ver LeanM@ils anteriores) é a principal ferramenta para estabelecer métodos bem definidos.

Os gerentes da planta que visitei estavam conscientes de algumas dessas necessidades e estavam iniciando um trabalho intenso para permitir melhor desempenho de suas máquinas e equipamentos. Em alguns casos, o nível de disponibilidade estava abaixo dos 70%. Mas não vi a mesma dedicação de esforços para a padronização do trabalho, treinamento da mão-de-obra e melhoria da qualidade.

Um enfoque integrado para garantir a estabilidade, atuando sobre os 4 Ms é, na verdade, uma pré-condição para a implementação sustentável do sistema lean. Juntamente com outras ferramentas, garante a produção na hora certa com qualidade assegurada e permite que a empresa torne-se cada vez mais lean. Para plantas muito instáveis, esta é uma necessidade anterior à implementação dos conceitos de fluxo contínuo, puxar, nivelamento e trabalho padronizado.

PS: Convidamos Elisa Martinez, uma especialista neste tema, para ministrar o curso "Garantindo a Estabilidade Básica". Sua vasta experiência e conhecimento tanto no mundo Toyota quanto fora dele, em diversos países e setores econômicos, nos ajudarão a aprender as ferramentas práticas para lidar com estas questões.

Fonte: Lean Institute Brasil
Publicado em 01/10/2005

Autor

José Roberto Ferro
Fundador e Presidente do Conselho do Lean Institute Brasil

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