Na realidade dinâmica do mundo das empresas, marcada por prazos rigorosos, demandas voláteis e competição acirrada, a sobrecarga dos recursos – conhecida como “muri” no sistema lean – emerge como ameaça crescente à eficiência e sustentabilidade.
"Muri" é uma palavra japonesa que pode ser traduzida como "impossível", "irracional" ou "excessivo". Ela é usada para descrever algo que é fora dos limites ou que não pode ser feito, seja por ser fisicamente ou logicamente impossível, ou quando exige um esforço que é além da capacidade.
Descreve a pressão excessiva exercida sobre pessoas, máquinas ou processos, gerando consequências adversas que vão desde o esgotamento da força de trabalho até falhas operacionais críticas. Considerando a situação atual da maioria das empresas brasileiras, entender e mitigar “muri’ tornou-se uma necessidade estratégica. A sobrecarga organizacional é frequentemente o resultado de decisões e práticas que, embora bem-intencionadas, acabam ignorando as limitações reais dos sistemas e das pessoas.
As principais causas incluem planejamento irrealista (prazos excessivamente curtos ou metas muito desafiadoras), processos mal projetados (sem fluxo definido, recheados de desperdícios) cultura de “alta pressão” (que valoriza o desempenho acima de tudo), variabilidade na demanda (oscilações no volume ou mudanças frequentes nas prioridades) e tecnologia mal implementada (introduzida sem considerar os reais impactos).
A sobrecarga não apenas reduz a eficiência, mas também tem consequências amplas e profundas para os trabalhadores, para os processos e para a organização. Para os trabalhadores, a sobrecarga leva ao esgotamento físico e mental, reduzindo a motivação e a produtividade. Isso abre espaço para o aumento dos erros e acidentes, pois a pressão excessiva aumenta a probabilidade de lapsos de concentração e falhas, tanto em escritórios quanto no chão de fábrica. Assim, a insatisfação e o turnover aumentam, pois profissionais sobrecarregados tendem a buscar outras oportunidades.
Os impactos também atingem processos e clientes. A sobrecarga pode comprometer a qualidade dos produtos ou serviços, prejudicando a satisfação e a entrega de valor para os clientes. Máquinas e equipamentos, quando operados acima de sua capacidade, quebram com mais frequência, gerando custos elevados de manutenção e interrupções inesperadas. Processos sobrecarregados criam atrasos e ineficiências que afetam toda a cadeia produtiva.
Gerenciar de maneira apropriada a utilização dos recursos ao longo do tempo é um desafio permanente e nada trivial. A busca deve ser sempre pela maior estabilidade possível, pelo nivelamento, pela distribuição uniforme e ritmo constante. Nem sempre é possível, é verdade. Mas deve ser um objetivo a ser perseguido, cotidianamente. A sobrecarga precisa ser primeiramente identificada e depois tratada com estratégias específicas que permitam reequilibrar a utilização dos recursos e garantir a produtividade.
Primeiramente, é preciso diagnóstico e monitoramento, buscando realizar análises detalhada das cargas de trabalho de indivíduos e equipes, da capacidade dos equipamentos e dos fluxos de processos. Isso significa observar as operações in loco e ouvir atentamente os profissionais envolvidos para entender onde estão os maiores pontos de pressão. Depois, precisamos ser capazes de distribuir o trabalho e as responsabilidades de forma equilibrada entre indivíduos, equipes e recursos. Em seguida, estabelecer os novos padrões e fornecer treinamento adequado para que as pessoas realizem suas atividades com mais eficiência e menos esforço.
Não podemos nos esquecer que a sobrecarga é sintoma dos reais problemas, que precisam ser explicitados e terem suas causas investigadas. Na maioria das vezes, descobrimos que o melhor caminho para reduzir a sobrecarga é eliminar os desperdícios, atividades que somente consomem tempo e energia, mas não criam valor sob a ótica do cliente. Se formos capazes de eliminar o esforço desnecessário, consumido por atividades pouco relevantes, sobrará mais tempo para lidarmos com todo o resto.
Outro passo importante é trazer mais realismo ao planejamento, definindo metas e prazos baseados em análises mais criteriosas sobre capacidades e recursos disponíveis. Isso exige práticas específicas, capazes de conectar a estratégia com o dia a dia, como as rotinas de Gerenciamento Diário (GD), por exemplo.
“Muri” é mais do que um problema operacional; é uma barreira estratégica que afeta pessoas, processos e organizações como um todo. No cenário atual, em que a competitividade é intensa e as expectativas dos clientes são altas, ignorar a sobrecarga pode custar caro – tanto em termos financeiros quanto em termos humanos.
As organizações que reconhecem o impacto da sobrecarga e adotam estratégias para mitigá-lo estão mais bem posicionadas para prosperar. Ao equilibrar eficiência com sustentabilidade, empresas podem não apenas melhorar seus resultados, mas também criar um ambiente de trabalho mais saudável, seguro e inovador. Afinal, o sucesso no mundo dos negócios não deve ser alcançado à custa de sobrecargas insustentáveis – ele deve ser construído com base em processos flexíveis, resilientes e no bem-estar de todas as partes envolvidas.