ESTRATÉGIA E GESTÃO

A importância do silêncio para a gestão

Flávio Battaglia
A importância do silêncio para a gestão
Em nossa sociedade cada dia mais barulhenta, chega a ser difícil perceber, mas o silêncio é fundamental para o equilíbrio da vida. E pode ser um trunfo se bem utilizado também na gestão

Ontem foi Dia Mundial do Silêncio. Pouca gente se lembra dessa data criada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para alertar sobre os males da poluição sonora aos ouvidos e à saúde mental.

Em nossa sociedade cada dia mais barulhenta, chega a ser difícil perceber, mas o silêncio é fundamental para o equilíbrio da vida. E pode ser um trunfo se bem utilizado também na gestão. No cotidiano das empresas, precisamos do silêncio para uma coisa que parece fácil em meio ao barulho, mas não é: pensar.

Quando conseguimos um mínimo de silêncio em meio à avalanche de informações e dados, encontramos o “espaço” necessário para refletir, ponderar, aprender, tudo isso com muito mais qualidade e profundidade, trazendo impactos significativos para as decisões.

E mesmo quando se torna difícil ou impossível, pelo ambiente naturalmente agitado do trabalho, podemos nos esforçar para criar o “silêncio interno”, aquele da nossa mente, em que nos “fechamos” ao ruído externo, não somente em decibéis, mas afastando preocupações imediatas que nos desviam da capacidade de raciocinar com devidos cuidado e clareza.

O silêncio é também um componente essencial nos processos de comunicação do dia a dia das organizações, principalmente nas relações entre líderes e liderados. Na gestão lean, por exemplo, exercitamos o hábito de “inserir silêncios” nos diálogos entre indivíduos e equipes, especialmente durante as reuniões de trabalho. Trata-se de um esforço para não se “atropelar” o interlocutor, permitindo que ele conclua suas ideias e consiga fechar seu raciocínio.

Claro que isso depende muito da cultura de cada empresa, mas o que prevalece são típicos diálogos “fragmentados”, quando uma pessoa nem acabou de falar, de concluir sua frase, mas a outra já começa seu discurso, mal permitindo que os demais interlocutores refletiam sobre a mensagem que acabaram de receber.

A “inserção de silêncios” entre as falas gera um pouco de desconforto no começo, mas proporciona um impacto interessantíssimo no processo de comunicação. As reuniões se tornam muito mais produtivas, pois a objetividade aumenta muito. Todos começam a pensar mais antes de abrir a boca.

Pode parecer algo não usual, mas imagine se todos numa organização adotassem esse procedimento o quão mais produtivos seriam os diálogos. E mais pertinentes e inteligentes seriam os caminhos percorridos para se entender os problemas e buscar as soluções.

Sem o silêncio, dificilmente conseguimos permear as camadas mais profundas dos problemas, interpretar a enormidade de informações das quais dispomos e decidir de maneira lógica e racional com base nas restrições que nos cercam. Um pouco de silêncio e genuína reflexão poderiam evitar grandes estragos, não somente no mundo das empresas.

Pela importância que tem, o silêncio deveria ser uma premissa para a boa gestão. Como na música. O que seria da melodia sem as pausas e intervalos de silêncio entre as notas musicais? Cacofonia.

Teria vindo do compositor austríaco Wolfgang Amadeus Mozart, um dos maiores gênios musicais de todos os tempos, a ideia de que a música, na verdade, não está nas notas, mas no silêncio entre elas, como elementos essenciais para se criar suspense, emoção e profundidade.

Precisamos compreender como o silêncio pode tornar a gestão mais harmônica, melódica e cadenciada.

Publicado em 08/05/2024

Autor

Flávio Battaglia
Presidente do Lean Institute Brasil