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Em 2024, ajuste a mentalidade e foque na solução de problemas

Flávio Battaglia
Em 2024, ajuste a mentalidade e foque na solução de problemas
Problemas não podem ser vistos como “coisas ruins”. Eles são evidências inequívocas de que estamos diante da oportunidade de melhorar processos, eliminar desperdícios, inovar e entregar mais valor

Passaram-se festas, férias e o Carnaval. 2024 já começou faz um tempo, mas tende a ficar mais quente, daqui para a frente, no mundo dos negócios. Então, se você ainda não definiu prioridades e caminhos, a hora é agora.

Para quem ainda está, digamos, um tanto perdido sobre qual será o mote do ano, na empresa ou na vida profissional, aqui vai uma sugestão: que tal focar esforços em aperfeiçoar a capacidade de resolver problemas?

Trata-se de uma habilidade valiosíssima para indivíduos, empresas e nações. Problemas nos assolam o tempo todo, em todos os lugares. Dentro e fora das empresas, as coisas não necessariamente acontecem de acordo com aquilo que se espera ou planeja. Dependendo da maneira como reagimos ao “desvio” (problema), podemos “corrigir a rota” (resolver o problema) ou “capotar o veículo” (potencializar efeitos ou até criar problemas novos).

Em geral, no universo das organizações, observam-se práticas bastante superficiais relacionadas à maneira como problemas são expostos, interpretados e resolvidos. O que significa resolver problemas, de verdade, está muito distante daquilo que poderia (ou deveria) acontecer.

A primeira coisa que precisamos aperfeiçoar na prática da solução de problemas é nossa capacidade de enxergá-los, recortá-lo e defini-los. Que problema estamos tentando resolver? Essa pergunta exige respostas claras. Do contrário, confusão, ruído e desperdícios estarão sempre presentes.

Problemas não podem ser vistos como “coisas ruins”. Pelo contrário. A maneira lean de pensar e agir sugere que a essência da gestão é, exatamente, revelar e resolver problemas. A gestão ganha força quando adotamos tal premissa para orientar a prática diária, envolvendo todos os níveis da organização. Problemas são evidências inequívocas de que estamos diante da oportunidade de melhorar processos, eliminar desperdícios, inovar e entregar mais valor.

Assim, manter uma visão meramente “negativa” é o primeiro passo no caminho de não se resolver nada. É aquela tradicional tentação de “empurrar a sujeira para debaixo do tapete”. Esconder, maquiar, distorcer... ou até mesmo fingir que os problemas não existem, um recurso bastante clássico também.

Então, o primeiro desafio de qualquer organização (ou indivíduo) que realmente queira transformar a maneira de gerenciar é questionar radicalmente a premissa mental que associa problemas a cargas emocionais eminentemente negativas, muitas vezes associadas a punições, inclusive.

Não é fácil transformar essas práticas e comportamentos. São formas de pensar, agir e decidir que estão, por vezes, cristalizadas na cabeça das pessoas. Já vêm com elas, da formação familiar, escolar e social, de maneira ampla. Está na essência da cultura de muitas organizações, cujos modelos de governança e gestão, inclusive, premiam e reforçam tais comportamentos.

Assim, é preciso enfrentarmos cotidianamente a mentalidade que associa problemas a coisas negativas, o que ainda hoje é dominante nos ambientes de trabalho da maioria das organizações. De maneira prática, por exemplo, deixando claro às pessoas, por diferentes meios possíveis e a todo momento, que jamais será um problema revelar problemas. Ao contrário, a nova maneira de agir poderá ser o início de um ciclo virtuoso, de evolução e crescimento para todos.

Para que isso possa se tornar uma realidade, o comportamento das lideranças será decisivo. Se continuarmos emitindo sinais cotidianos de que problemas são “coisas ruins”, perguntando “quem?” em vez de “por quê?”, jamais seremos capazes de aperfeiçoar concretamente a maneira como endereçamos nossos desafios.

Isso pode ser um primeiro passo, a base fundamental para se sustentar a evolução dos métodos e das técnicas. Munidos de clareza sobre o real objeto de nosso desafio, podemos nos debruçar sobre as maneiras mais efetivas de vencê-lo. Diz-se que um problema bem definido é metade da solução. A sabedoria popular reúne pérolas.

Vivemos em um mundo cada vez mais digital, com inédita disponibilidade de dados e informações, inteligência artificial para nos apoiar e uma série de outros presentes da modernidade. No entanto, ainda precisamos desenvolver consideravelmente nossa capacidade de resolver problemas enquanto indivíduos e coletivamente. Trata-se da tecnologia humana, da inteligência social, em última instância, que pode nos levar a novos patamares de progresso, dentro e fora das empresas.

Publicado em 15/02/2024

Autor

Flávio Battaglia
Presidente do Lean Institute Brasil