ESTRATÉGIA E GESTÃO

Para transformações lean profundas desenvolva novos “power skills” nas lideranças

Robson Gouveia
Para transformações lean profundas desenvolva novos “power skills” nas lideranças

Quando se trata de liderança, é fácil pensar apenas em habilidades técnicas e conhecimentos específicos. No entanto, com a evolução do sistema lean, um novo conjunto de “power skills” está emergindo como essencial para os líderes. São habilidades que não apenas ajudam a promover uma cultura lean, mas também a criar um ambiente de trabalho mais saudável e produtivo.

¨Power Skills¨ são habilidades comportamentais importantes para o desenvolvimento pessoal e profissional do indivíduo. Há, ainda, quem entenda que “power skills” são a mescla entre “hard skills” e “soft skills”. Ou seja, uma união poderosa que se reflete no potencial individual e faz com que a pessoa se diferencie.

Liderar uma equipe não é tarefa fácil e exige um conjunto de habilidades e práticas que precisam ser executadas em diferentes situações no cotidiano das empresas. Em uma transformação lean, pessoas devem estar sempre no centro, o que exige, das lideranças, a necessidade de estarem atualizadas e atentas quando algo não anda bem.

Há seis “power skills” importantes que geralmente faltam à maioria das lideranças nas jornadas de desenvolvimento e transformações empresariais que temos acompanhado nas últimas duas décadas, o que incide diretamente e negativamente não apenas no resultado e na sustentabilidade dos ganhos adquiridos, mas, principalmente, na moral das equipes que essas pessoas comandam e no ambiente de trabalho onde estão inseridas.

Claro que não podemos definir líderes apenas pela existência ou não dessas seis competências, mas com elas podemos dar origem a lideranças mais capazes, reforçando e buscando essas habilidades para uma mudança cultural profunda e tão sonhada.

  1. Capacidade para a criação de ambientes psicologicamente seguros

    Um dos principais “power skills” que os líderes devem desenvolver é a segurança psicológica. Isso envolve criar um ambiente onde os membros da equipe se sintam à vontade para expressar suas opiniões e ideias, sem medo de retaliação ou julgamento. A segurança psicológica é fundamental para promover a inovação e o aprendizado contínuo, pois permite que as pessoas se sintam à vontade para compartilhar suas experiências e erros. Primeiramente, é muito importante entender o que não é segurança psicológica. Não é um senso de conforto, não representa a ideia de que tudo vai ser ótimo e não é sobre ser legal com todos.

    É a criação e desenvolvimento de um ambiente de trabalho pautado pela sinceridade e honestidade. É um ambiente, no qual não tem problema errar ou pedir ajuda quando necessário, tornando o processo de encarar riscos e enfrentar desafios mais atrativo para todos os colaboradores. Ademais, é um ambiente onde todos podem ser quem são, sem receio de julgamentos.

  1. Aprender sobre falhas e fracassos para acelerar a mudança e a inovação

    Nas jornadas de transformação lean, experimentar e falhar é muito mais comum do que se possa imaginar. Grandes mudanças e ferramentas conhecidas por milhares de praticantes ao redor do mundo são frutos de fracassos experimentados em muitas situações.

    O tempo todo, somos confrontados com duas "culturas do fracasso": uma que nos diz para evitar o fracasso a todo custo e outra que nos encoraja a falhar de forma rápida e frequente.

    A liderança lean precisa compreender que a falha é uma parte inevitável do processo de aprendizado. Quando falhamos, somos confrontados com nossas limitações e erros, o que nos permite identificar áreas que precisam ser aprimoradas. Ao analisar nossos erros, podemos identificar onde erramos e encontrar soluções para melhorar. É o que podemos chamar de "falha inteligente".

  1. Confiança e conexões genuínas

     Os líderes lean devem ser capazes de estabelecer relações de confiança com seus colaboradores, o que envolve ser honesto, transparente e cumprir as promessas. Quando os membros da equipe confiam nos líderes, eles se sentem mais motivados e engajados, o que leva a um aumento da produtividade e da qualidade do trabalho.

    Além disso, os líderes lean devem ser capazes de criar conexões significativas com colaboradores. Isso envolve ouvir ativamente, mostrar empatia e estar presente. Ao se conectar com os colaboradores de forma autêntica, os líderes podem entender melhor as necessidades e preocupações e, assim, apoiá-los de maneira mais eficaz.

    Você pode iniciar isso exercitando diariamente a “pequena ética”: dê bom dia, boa tarde, boa noite; peça licença, use “por favor”, seja grato.

  1. Liderar com respeito promovendo ambientes inclusivos

    O respeito também é um “power skill” fundamental para os líderes lean. Isso significa tratar todos os membros da equipe com dignidade e valor, independentemente de seu cargo ou função. Os líderes devem reconhecer e valorizar as contribuições de cada indivíduo, promovendo um ambiente de trabalho inclusivo e colaborativo.

    Trata-se de um conceito que significa não apenas respeitar humanamente as pessoas, mas fazer com que cada um dos liderados tenha olhar crítico sobre si mesmo e seu trabalho, buscando melhorá-lo. Ouvir mais, desafiar, apoiar, trabalhar com equipes horizontais, aprender, ensinar e estar no local onde o trabalho acontece são práticas da liderança que concretizam o que é o respeito sob a ótica lean.

    Liderar com respeito deve estar alicerçado em ações afirmativas para a criação de um ambiente diverso e inclusivo que permita a participação de todos, garanta igualdade em pontos de partida e crie espaços de diálogo e cooperação. Trata-se de um ambiente que amplia o exercício da cidadania e que concretiza o que se sonhou com a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

    Vale ressaltar que a diversidade caminha ao lado da inclusão. Elas se ligam a partir do contexto social. Quanto maior a inclusão, maior a diversidade.

  1. Observar mais, julgar menos

    Os líderes lean devem estar cientes dos vieses inconscientes. Isso envolve reconhecer que todos têm tendências a fazer julgamentos baseados em estereótipos ou preconceitos inconscientes. Ao estar ciente desses vieses, os líderes podem tomar medidas para evitá-los e tomar decisões mais justas e imparciais.

    Todos enfrentam desafios, não é mesmo? Você também tem os seus? Há pessoas na sua equipe com histórias de vida difíceis, com filhos doentes, com dores crônicas, que sofrem de depressão, que são viciadas em redes sociais, que se parecem ausentes etc. É importante lembrar que muitas vezes essas pessoas não têm consciência dos problemas que possuem e os comportamentos consequentes. Outras vezes, são problemas com os quais elas lutam diariamente, mas simplesmente não conseguem resolver.

    Você não é um juiz, você é um líder. Em vez de julgar as ações, observe os comportamentos e ajude todos os que necessitem; esteja presente, apoie e, se for julgar algo, julgue os resultados que você construir com a sua equipe conjuntamente.

  1. Ser o exemplo

    Por último, mas não menos importante, os líderes lean devem ser um exemplo para a equipe. Eles devem incorporar os princípios lean em seu próprio trabalho e comportamento, mostrando aos outros o que é possível alcançar. Ao serem um exemplo, os líderes podem inspirar e motivar seus colaboradores a adotarem uma mentalidade lean e a se esforçarem para alcançar a excelência.

    "Suas atitudes falam tão alto que eu não consigo ouvir o que você diz". Essa frase, atribuída ao escritor e filósofo americano Ralph Waldo Emerson, é uma maneira bem interessante de explicar o que é a hipocrisia e a incoerência. Já ouviu alguém falar sobre ética, quando seus atos são totalmente antiéticos? Um médico fuma e aconselha seus pacientes a não fumarem? Ou um religioso intolerante? Muitas vezes, falam demasiadamente, na tentativa de sobrepor ao que falta em atitudes.

    Quer que as pessoas cumpram os prazos? Cumpra os seus. Quer que todos estejam na reunião no horário agendado? Seja o primeiro a chegar. Quer que a sua empresa elimine desperdícios e gere mais valor? Esteja na linha de frente com o seu time nessa busca.

Sem a devida preparação das lideranças, o progresso em relação aos problemas mais desafiadores de cada organização será limitado. Nosso olhar atento em cada programa de formação que apoiamos em empresas pelo Brasil e no mundo ressalta as pressões crescentes que esses líderes enfrentam. As transformações aceleradas e os imperativos financeiros de curto prazo continuam críticos, enquanto as demandas sociais e o cuidado com os indivíduos exigem mais atenção.

Acreditar que as pessoas são o ativo mais valioso e, portanto, ter a atitude certa em consonância com essa crença devem fazer com que os setores de Recursos Humanos e os líderes empresariais invistam tempo e esforços na criação de um ambiente de trabalho onde todos são valorizados e respeitados. Essa abordagem cria ambientes psicologicamente seguros para os funcionários, permitindo que eles se sintam à vontade para expressar opiniões, ideias e preocupações. Isso promove o engajamento e a colaboração entre os membros da equipe.

Lideranças que conseguem mover mentes e corações obtêm maior sucesso na criação de valor para os clientes. Se por um lado os profissionais atuais demandam mais autonomia, participação nas decisões estratégicas e flexibilidade, por outro, ainda não estão desenvolvidos com habilidades para solucionar problemas complexos e para lidar com “power skills” ligados às relações humanas que antes eram negligenciados.

Por tudo isso, nossos esforços têm se concentrado na formação de novos líderes, iniciando pelo topo, pois tudo começa no comportamento da alta liderança, já que a cultura da empresa é, em boa parte, reflexo de seus executivos.

Publicado em 24/01/2024

Autor

Robson Gouveia
Diretor no Lean Institute Brasil.

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