Tenho acompanhado pequenos empreendedores apresentando suas experiências de lançamento de MVPs e tenho percebido que não enfatizam os riscos que um MVP pode causar à empresa Startup.
O conceito de MVP (MinimumViableProduct) ou PVM (Produto Mínimo Viável), elaborado por Eric Ries em seu livro "A Startup Enxuta", é uma das grandes contribuições para o mundo das Startups e porque não dizer para o mercado em geral. O MVP é uma forma de expressarmos uma ou mais ideias aos possíveis clientes, gastando o mínimo de esforço necessário para o lançamento de um produto, de forma que possamos coletar informações sobre as experiências dos usuários, aprender com elas e posteriormente tomarmos uma decisão.
A expressão “mínimo esforço necessário” significa gastar o mínimo de tempo, recursos técnicos e financeiros na construção de uma solução, pois não há certeza de que terá boa aceitação pelo usuário. Em outras palavras, como a chance de lançar algo errado da primeira vez é muito grande, o objetivo é gastar apenas o mínimo necessário de forma que se possa aprender com os erros, diminuindo assim os riscos e os desperdícios.
Um MVP não é necessariamente apenas um protótipo contendo a principal funcionalidade de um grande produto. Pode ser, por exemplo, apenas um vídeo, uma única página Web, um jogo para o celular contendo funcionalidades básicas etc, cujo objetivo é responder as perguntas técnicas ou de design assim como testar as hipóteses fundamentais do negócio.
O conceito de MVP é extremamente útil para o lançamento de um novo produto. Porém, há diversos riscos relacionados à sua construção que, segundo Ries, devem ser considerados. Dentre eles, os mais importantes são:
-
Questões legais: dependendo do país ou da área de jurisdição, após lançar um MVP, a empresa pode ser obrigada a registrar a patente do produto pouco tempo depois. O registro de patentes é uma forma de manter os concorrentes afastados, porém, diversas vezes, poderá inibir a inovação das empresas, visto que a ideia do produto ficará disponível ao público, possibilitando inovações por parte dos concorrentes.
-
Construir mais do que o necessário: empreendedores imaginam que os clientes possam achar o MVP um produto imperfeito por ter poucas funcionalidades e, assim, acabam fazendo mais que o necessário, aproximando seu processo algumas vezes do modelo de desenvolvimento em cascata.
-
Receio em relação aos concorrentes: há um risco de ter uma ideia sendo apropriada por concorrentes ainda em estágios iniciais. Essa é talvez a objeção mais comum entre os empreendedores. Porém, segundo Ries, não é tão fácil assim ter uma ideia roubada. Ele desafia um empreendedor a ligar ou enviar um e-mail para o gerente de uma grande empresa e dizer sua ideia. A verdade é que os gerentes estão cheios de ótimas ideias e muito ocupados no seu dia a dia em priorizar qual será executada primeiro e dificilmente terão ouvidos para o empreendedor e sua nova ideia.
-
Risco para a marca: outro receio dos empreendedores de Startups e também de empresas já estabelecidas no mercado é o de lançar um MVP e prejudicar a imagem da marca devido, por exemplo, a limitação de funcionalidades do MVP. Para isso, Ries sugere algo muito comum que é lançar o produto com uma marca diferente.
É válido lembrar que, não apenas um, mas vários MVPs podem ser necessários até que a empresa alcance o produto ideal para o cliente. Dessa forma, não apenas esses, mas diversos outros obstáculos muito provavelmente surgirão durante a construção de um MVP.
Outro risco é não estabelecer corretamente os indicadores que deseja medir com o lançamento do produto. Se isso não for definido inicialmente de maneira correta, a medição será falha e consequentemente o aprendizado também, prejudicando o processo de construção.
Durante o ciclo de construção que envolve as fases de construir, medir e aprender, o empreendedor constrói um produto, realiza a medição gerando dados, aprende com eles e gera novas ideias para construção de um produto melhor e assim por diante. Durante esse ciclo, ideias totalmente diferentes poderão surgir, mudando radicalmente o tipo de produto a ser lançado no mercado.
Entender bem o conceito e os riscos que envolvem um MVP é um fator fundamental para seu sucesso. Em uma comparação com a manufatura é como se o MVP fosse um único lote com um número reduzido de ideias, que serão ajustadas no decorrer da aprendizagem originada pelos feedbacks de clientes reais (aqueles que realmente possuem interesse em usar o produto).
O lançamento de um MVP é a fase inicial de uma longa aprendizagem e, muito provavelmente, passará por diversos obstáculos e riscos que precisam ser explicitamente observados cuja superação deve ser fonte fundamental de aprendizado durante todo o processo de construção do produto.